Crítica Literária – Ensaio – O Real e o Imaginário em Marguerite Duras

Esta presente Crítica Literária – Ensaio, articula algumas aproximações entre o real e o imaginário na obra de Marguerite Duras (1914-1996 ), correlacionando seus textos de ficção e não ficção. Entendo por ficção, neste estudo, o texto ideado cuja narrativa partiu das experiências vividas na realidade pela autora francesa, mas que em alguma parte foi alterado, mesmo criado, à medida que a escritora não pode reviver o passado tal qual sentiu enquanto presente, apenas em parte despertado por resgates de memória. Assim, entendo que ela pode até inventar, preenchendo lacunas, mesmo sem ter exata consciência disso. Por outro lado, entendendo aqui como não ficção o texto apresentado através de relatos mais objetivos, aproximando-se o máximo possível – pelo talento de Duras – dos fatos reais vividos. Tais escritos de não ficção, à exemplo da linguagem na ficção, se enriquecem com citações, nomes de pessoas e de espaços e descrições do mundo real que podem ser conferidos e confrontados, ressalte-se mantendo qualidade literária.

Todos os fatos narrados e analisados nos três livros da autora considerados neste ensaio se passam na antiga Indochina, atual Vietnã, imediações de Laos e Camboja, quando a Autora tinha entre treze e dezoito anos, portanto entre 1927 e 1932 do século passado. Ressalte-se que os “Cadernos de Guerra3”, foram escritos durante a segunda guerra mundial, portanto quase vinte anos depois dos fatos narrados, entre 1943 e 1949. “O Amante1” foi escrito em 1984, quase sessenta anos depois, e “O Amante da China do Norte2”, mais tempo decorrido ainda, sessenta e cinco anos depois, sendo portanto mais oportuno considerar que quase tudo é ficção, em função de que tempo, espaços e pessoas mudaram muito. A ideia foi a de apresentar os fatos narrados nestas três circunstâncias em que Marguerite conferiu o que viveu, escrevendo sobre um mesmo período de sua vida, a adolescência, primeiro com cerca de quarenta, a seguir com sessenta, e por último com sessenta e cinco anos aproximadamente.

O texto será apresentado de forma a mixar as narrativas sempre de modo a aproximar diferentes pontos de vista sobre o mesmo assunto abordado, mantendo intactas as unidades apresentadas, citando fontes, retratando a história de dois amantes, suas famílias e seus países. Assim, Duras nos conta que:

A história da minha vida não existe. … Nunca há um centro. Nem caminho, nem linha. … Aqui falo dos períodos encobertos dessa mesma juventude, de certos fatos, certos sentimentos, certos acontecimentos que enterrei. … Agora vejo que desde muito jovem, desde os dezoito, quinze anos, tive aquele rosto premonitório deste outro que depois adquiri com o álcool na meia idade. … Havia em mim o lugar para ele, soube disso com os outros, mas, curiosamente, antes da hora. Assim como havia em mim o lugar do desejo. Aos quinze anos eu tinha o rosto do gozo e não conhecia o gozo. (Duras, O Amante1, pag.10-11).

A autora busca no momento da escrita a sensação contemporânea que possa melhor corresponder aos sentimentos passados, recriando a atmosfera de sua juventude, ao mesmo tempo significando-o no tempo presente:

É no curso dessa viagem que a imagem teria sido destacada, subtraída ao conjunto. Poderia ter existido, poderiam ter tirado uma foto, como qualquer outra, em outro lugar, em outras circunstâncias. Mas não tiraram. … Ela só poderia ter sido tirada se fosse possível prever a importância daquele acontecimento em minha vida, aquela travessia do rio. Ora, enquanto esta ocorria, até mesmo sua existência era ainda ignorada. Só Deus a conhecia. … Encontrei uma fotografia de meu filho aos vinte anos. Ele está na Califórnia com suas amigas Erika e Elisabeth Lennard. É tão magro que parece um ugandense branco. Seu sorriso me parece arrogante, tem um ar irônico. Ele que passar uma imagem desleixada de jovem vagabundo. Gosta disso, pobre, com essa cara de pobre, esse ar desajeitado de magricela. É essa fotografia que mais se aproxima daquela que não foi tirada da moça da balsa. (Duras, O Amante1, pag.12-15).

Procurando contextualizar para si mesma e para o leitor os espaços vividos através de imagens onde insere precisas características das personagens, Duras, reportando-se a uma foto bem antiga, faz o caminho inverso quando nos diz que:

… Eu a reconheço melhor ali do que em fotos mais recentes. É o pátio de uma casa no Pequeno Lago de Hanói. Estamos juntos, ela e nós, os filhos. Tenho quatro anos. Minha mãe no centro da imagem. Reconheço como ela se sente pouco a vontade, como não sorri, como espera que logo termine a foto. Por seus traços abatidos, por um certo desleixo na roupa, pela sonolência do olhar, sei que faz calor, que ela está cansada e aborrecida. Mas é pelo jeito como nós, os filhos estamos vestidos, como uns infelizes, que reconheço um certo estado que às vezes já acometia minha mãe e cujos sinais de prenúncio, nós, na idade que temos na foto, já conhecíamos, esse jeito, justamente, que de repente ela tinha, de não conseguir mais nos lavar, nem nos vestir, e às vezes nem sequer nos alimentar. Esse grande desânimo de viver atingia minha mãe todos os dias. (Duras, O Amante1, pag.15-16).

Este estudo consubstanciado em crítica literária – ensaio, analisa as vivências de família enfatizando o relacionamento da autora com a mãe, podem ser enriquecidas confrontando textos escritos em diferentes épocas:

Quinze anos e meio. O corpo é magro, quase mirrado, seios ainda infantis, maquilada de rosa pálido e vermelho. E depois essa roupa que poderia provocar risos e da qual ninguém ri. Vejo que já está tudo ali. … Quero escrever. Já disse para minha mãe: o que eu quero é isso, escrever. … Depois ela pergunta: escrever o que? Digo livros, romances. … Ela é contra, não é digno, não é trabalho, é uma piada – e me dirá mais tarde: uma ideia de criança. … Resta esta menina que cresce e talvez um dia saiba como fazer entrar dinheiro em casa. É por esta razão, e ela não sabe disso, que a mãe permite que a filha saia com essa roupa de prostituta infantil. E é por isso também que a menina já sabe como fazer para canalizar a atenção que lhe dedicam para a atenção que ela, ela dedica ao dinheiro. Isso faz a mãe sorrir. … A mãe não impedirá quando ela for atrás de dinheiro. A filha dirá: eu pedi a ele quinhentas piastras para o retorno à França. A mãe dirá que está bom, que é o necessário para se instalar em Paris, ela dirá: quinhentas piastras chegam. Nas histórias de meus livros que remetem à minha infância, de repente não sei mais o que evitei dizer, o que disse, acho que falei do amor que sentíamos por nossa mãe, mas não sei se falei do ódio que também sentíamos por ela e o amor que sentíamos uns pelos outros, e o ódio também, terrível, nessa história comum de ruína e morte que era a dessa família em qualquer caso, de amor ou de ódio, e que ainda não consigo entender plenamente, ainda me é inacessível, oculta no mais fundo de minha carne, cega como um recém nascido no primeiro dia de vida. O que acontece é justamente o silêncio, essa lenta labuta durante toda a minha vida. … Nunca escrevi, e pensei que escrevia, nunca amei, e pensei que amava, nunca fiz nada a não ser esperar diante da porta fechada.  (Duras, O Amante1, pag.20-25).

Através desta crítica literária – ensaio, podemos verificar a mudança de tom, que passa do relato ficcional, para um registro objetivo de posturas diante da existência e das melhores formas para se aproximar das experiências essenciais que se posiciona contra todo e quaisquer exageros:

A partir da infância todo destino é infinitamente digno de piedade. Sem dúvida, sou levada a acreditar apenas nas dos outros, pois na minha só vejo uma precocidade que mais me causaria horror. \minhas fotografias de criança me dão ânsia de vômito. Quando me acontece de ler narrativas de infância ou de juventude, fico espantada com o mundo de irrealidade que elas contém; mesmo nas histórias de crianças ditas infelizes (como se houvesse crianças felizes), encontram-se infernos artificiais, recursos desesperados rumo ao sonho, a evasão para o feérico, para o maravilhoso. Isso sempre me confunde e sou levada a crer que se trata antes de uma traição involuntária – ou, mais simplesmente, de uma transposição poética sem a qual, acredita-se que a infância ficaria desonrada. Por mais longe que vão minhas as minhas lembranças, minha infância se desenrolou numa luz desértica e crua, tão longe do sonho quanto possível. Este se vê excluído dos meus jovens anos. … Quero, pois, dizer que não me lembro de ter sonhado com o que quer que seja, ainda que fosse com uma vida melhor. Se eu sonhava me casar com Léo, meu “inferno” me seguia no sonho e o sonho era o confronto daquela realidade com o que se poderia chamar de felicidade. (Duras, Cadernos de Guerra3, pag.68).

E da mesma maneira objetiva, podemos conhecer melhor o impacto de Léo, o amante, na vida daquela pequena comunidade familiar gelada como nos transmite a personagem inominada do relato de ficção:

A intrusão de Léo na família mudou todos os planos. Logo que se conheceu o volume de sua fortuna, ficou decidido por unanimidade que ele pagaria os chettys, financiaria as diversas empresas (uma serraria para meu irmão caçula e um ateliê de decoração para meu irmão mais velho) cujos projetos foram cuidadosamente estudados por minha mãe, e que, além disso e acessoriamente, ele equiparia cada membro da família com um carro particular. … “Se você pudesse não se casar com ele” dizia minha mãe, “seria melhor, afinal de contas ele é um nativo, você me dirá o que quiser…” Eu me revoltava e dizia que me casaria com o Léo, ao que minha mãe respondia: “Se você for esperta e souber fazer as coisas, pode muito bem evitar isso…” Caso eu insistisse, recebia umas palmadas. Minha mãe me fazia jurar “sobre sua cabeça” que eu nunca me entregaria ao Léo: “Você pode fazer exatamente tudo o que quiser, mas não se deite com ele, tire dele tudo que puder, você tem o direito, pense em sua pobre mãe, mas não se deite com ele – pois ninguém mais vai querer de você.” Minha mãe tinha uma confiança absoluta na virgindade das moças: “O maior bem de uma moça é a sua pureza.” Se eu me deitasse com Léo, ninguém nunca mais ia querer saber de mim, nem mesmo ele. Mais tarde, um ano depois de meu encontro com Léo, ele me declarou que, para sua grande mágoa, não podia me desposar sem ser totalmente deserdado pelo pai, que não queria de jeito nenhum aquele casamento.  Minha mãe falou então em “atacá-lo na justiça” por ter-me comprometido. (Duras, Cadernos de Guerra3, pag.54-55).

A experiência do amor na ficção, transposto através desta crítica literária – ensaio, nos mostra um mundo de descobertas, entremeado de obrigações, e de algum modo livre dos conflitos em família. Aqui os conflitos são apenas dos amantes:

O homem elegante desceu da limusine, ele fuma um cigarro inglês. … Aproxima-se devagar. Visivelmente intimidado. De início não sorri. … A mão treme. … E diz que parece estar sonhando.  Ele pergunta: mas de onde você é? Ela diz que é filha da diretora da escola feminina de Sadec. Ele pensa um pouco e depois diz que ouviu falar dessa senhora, a mãe, de sua falta de sorte com aquela concessão que teria comprado no Camboja, não é isso? Sim, é isso. … Chinês. Ele pertence a essa minoria financeira de origem chinesa que possui todos os imóveis populares da colônia. … Nunca mais farei a viagem no ônibus dos nativos. … E estarei ali sempre lamentando tudo o que faço, tudo o que deixo, tudo o que pego, o bom e o ruim, o ônibus, o motorista do ônibus, com quem eu dava risada, as velhas mascando bétel nos assentos traseiros, as crianças sobre os bagageiros, a família de Sadec, o horror da família de Sadec, seu silêncio genial. … Ela escutava, atenta às informações de seu discurso que remetiam à riqueza, que pudessem dar uma indicação da quantidade de milhões. … O pai não permitirá o casamento do filho com a pequena prostituta branca do posto de Sadec. (Duras, O Amante1, pag.25-30).

Desde o primeiro momento ela sabe alguma coisa assim, quer dizer, que ele está em suas mãos. E que, portanto, outros também, além dele, poderiam ficar em suas mãos caso surgisse a ocasião. Ela também sabe uma outra coisa, que agora certamente chegou o momento em que não pode mais escapar a certas obrigações para consigo mesma. E ela também sabe, neste dia, que a mãe não pode saber de nada daquilo, nem os irmãos. Desde que entrou no carro preto, ela soube, está afastada dessa família pela primeira vez e para sempre. Doravante eles não devem mais saber o que acontecerá com ela. Não importa que a peguem, que a levem, que a maltratem, que a corrompam, eles não devem mais saber. Nem a mãe, nem os irmãos. Doravante será este o destino deles. É hora de chorar na limusine preta. A menina agora terá de enfrentar aquele homem, o primeiro, aquele que se apresentou na balsa. … Chegou muito rápido esse dia, uma quinta feira. … É Cholen. É um cômodo no sul da cidade. Moderno, parece mobiliado às pressas, com móveis que se pretendem modern style. (Duras, O Amante1, pag.33)

O estúdio está escuro, ela não pede que abra as persianas. Não tem um sentimento muito definido, não sente ódio nem repugnância, então sem dúvida ali já existe desejo. Ela desconhece o desejo. Concordou em vir quando ele a convidou na tarde anterior. Está onde deve estar, deslocada. Sente um leve medo. De fato, parece que isto deve corresponder não só ao que ela espera, mas ao que deveria acontecer exatamente no seu caso. Ela está muito atenta ao exterior das coisas, à luz, ao vozerio da cidade em que está imerso o quarto. Ele, por sua vez, treme. Olha-a de início como que esperando que ela fale, mas ela não fala. Então ele também, não se mexe, não a despe, diz que a ama feito loco, diz baixinho. Depois fica quieto. Ela não responde. Poderia responder que não o ama. Não diz nada. De repente ela sabe, ali, naquele instante, ela sabe que ele não a conhece, que nunca a conhecerá, que não tem como conhecer tanta perversidade. E fazer tantos e tantos rodeios para alcança-la, ele jamais conseguirá. Cabe a ela saber. Ela sabe. A partir da ignorância dele, ela sabe de repente: ele lhe agradava já na balsa. Ele lhe agrada, a coisa dependia somente dela. (Duras, O Amante1, pag.34)

Ela lhe diz: preferia que você não me amasse. Mesmo que você me ame, gostaria que fizesse como costuma fazer com as mulheres. Ele a olha espantado, e pergunta: é o que você quer? Ela diz que sim. Foi ali naquele quarto que ele começou a sofrer pela primeira vez, não mente mais sobre esse ponto. Ele lhe diz que já sabe que ela nunca o amará. Ela o deixa falar. Primeiro ela diz que não sabe. Depois o deixa falar. … Ela diz que não quer que ele fale com ela, o que quer é que ele faça como costuma fazer com todas as mulheres que leva à sua garçonnière. Ela lhe suplica que faça assim. Ele arranca o vestido, joga-o, arranca a calcinhas de algodão branco e a leva nua assim até a cama. E então se vira para o outro lado e chora. Ela, lenta, paciente, torna a trazê-lo para perto de si e começa a despi-lo. De olhos fechados, ela o despe. Lentamente. Ele quer fazer gestos para ajudá-la. Ela lhe pede que não se mexa. Deixe. Ela diz que quer fazer ela mesma. Ela faz. Ela o despe. Quando ela pede, ele muda o corpo de lugar na cama, mas pouco, levemente, como para não a despertar. … A pele é de uma suavidade suntuosa. O corpo. O corpo é magro, sem força, sem músculos, podia ser de um doente, de um convalescente, ele é imberbe, sem virilidade a não ser a do sexo, é muito frágil, parece estar à mercê de um insulto, sofrendo. Ela não o olha no rosto. Não o olha. Ela o toca. Toca a suavidade do sexo, da pele, acaricia a cor dourada, a desconhecida novidade. Ele geme, chora. Sente um amor abominável. E chorando ele faz. Primeiro vem a dor. E então, depois que essa dor é acolhida, ela é transformada, lentamente arrancada, arrastada para o gozo, abraçada a esse gozo. O mar, sem forma, simplesmente incomparável. (Duras, O Amante1, pag.35)

Eu não sabia que sangrava. Ele me pergunta se doeu, digo que não, ele diz que fica feliz. Ele enxuga o sangue, ele me lava. Olho-o fazer. Insensivelmente ele volta, volta a ser desejável. Eu me pergunto como tive a força de enfrentar a proibição posta por minha mãe. . Com essa calma, essa determinação. Como consegui ir “até o fundo da ideia”. Nos olhamos. Ele abraça meu corpo. Me pergunta porque vim. Digo que devia vir, que era como uma obrigação. É a primeira vez que falamos. Conto-lhe da existência de meus dois irmãos. Digo que não temos dinheiro. Mais nada. Ele conhece esse irmão mais velho, encontrou-o nas casas de ópio do posto. Digo que esse irmão rouba minha mãe para ir fumar, que rouba os empregados, e que às vezes os donos das casa de ópio vêm cobrar o pagamento à minha mãe. Falo das barragens. Digo que minha mãe vai morrer, que aquilo não pode mais continuar. Que a morte muito próxima de minha mãe também de ve estar relacionada com o que me aconteceu hoje. … Percebo que o desejo. … Ele tem pena de mim, eu lhe digo que não, que não deve ter pena de mim nem de ninguém, exceto de minha mãe. Ele me diz: você veio porque tenho dinheiro. Eu lhe digo que o desejo assim com o seu dinheiro, que quando eu o vi ele já estava naquele carro, naquele dinheiro, e que portanto não posso saber o que teria feito se tivesse sido de outra maneira. Ele diz: eu queria levá-la, ir embora com você. Digo que ainda não poderia deixar minha mãe sem morrer de pena. Ele diz que decididamente não teve sorte comigo, mas que mesmo assim me dará dinheiro, para eu não me preocupar. E se estendeu de novo. De novo ficamos calados. (Duras, O Amante1, pag.36)

   … Eu lhe digo que gosto da ideia de que ele tenha muitas mulheres, de estar entre estas mulheres, confundida entre elas. … Digo que venha, que ele deve me tomar de novo. Ele vem. Ele cheira bem, a cigarro inglês, a perfume caro, ele cheira a mel, sua pele adquiriu à força o cheiro da seda, o perfume frutado do tussor de seda, do ouro, ele é desejável. Eu lhe falo deste desejo por ele. Ele me diz para esperar mais um pouco. E fala, diz que soube imediatamente, desde a travessia do rio, que eu seria assim após meu primeiro amante, que eu amaria o amor, diz que já sabe que eu o enganarei e que enganarei também todos os homens com quem estiver. Diz que, quanto a si, ele foi o instrumento de sua própria desgraça. Fico feliz com tudo o que ele me anuncia e lhe digo. Ele se torna brutal, seu sentimento é desesperado, ele se atira sobre mim, come os seios de criança, grita insulta. Fecho os olhos de tanto prazer. … Ele me chama de puta, de nojenta, diz que sou seu único amor, e é isso o que ele deve dizer e é isso que se diz quando se deixa o dizer acontecer, quando se deixa o corpo fazer e buscar e encontrar e tomar o que quer, e aí tudo é bom, não há restos, os restos são recobertos, tudo arrastado pela torrente, pela força do desejo. (Duras, O Amante1, pag.38-39)

No entanto, a mesma experiência do amor no relato objetivo de não ficção, nos mostra um mundo parecido, mas agravado com os conflitos pessoais da autora enquanto jovem, que não se isenta de qualificações e justificativas para poder amar apenas o desejo e o amor que Léo sente por ela:

Como Léo me notou? Ele me achou a seu gosto. Não me explico isso senão pelo fato de o próprio Léo ser feio. Ele tivera catapora e conservou suas marcas – era nitidamente mais feio do que o anamita (povo seminômade do leste montanhoso do Vietnã) médio, mas vestia-se com um gosto perfeito, tinha um cuidado e um asseio meticulosos, era de uma cortesia de que nunca se apartou mesmo na minha casa, onde a grosseria reinava permanentemente, até em relação a ele. Por outro lado era de uma generosidade verdadeira, mas suficientemente esclarecida para que não se pudesse “pedir qualquer coisa”. (Duras, Cadernos de Guerra3, pag.56).

Ele tinha um ciúme que envenenava nossa relação. Mas a quinze anos de distância, vejo bem que, sem esse ciúme, jamais poderia continuar a vê-lo. Ele fazia cenas e impunha condições para as “saídas”, as quais ele havia percebido que me agradavam bastante. Dizia-me: “Agora que eu a tirei do pão com banana, você vai me enganar”. … Assim, ele me dizia: “É muito simples, se você me enganar, eu mato você. Como eu o enganaria e com quem? Só me deitei com ele uma única vez e ao fim de dois anos de súplicas. O que ele chamava de “enganá-lo” teria sido, por exemplo, beijar outro que não ele, ou dançar com um europeu. … Mas Léo nunca acreditava totalmente em mim. … Eu amava o Léo-no-seu-Léon-Bollée (o carro luxuoso com motorista). Também amava Léo quando ele pagava os jantares frios e o champanhe nas boates.  (Duras, Cadernos de Guerra3, pag.61-62).

Como cheguei a superar a espécie de repugnância física que Léo me inspirava? A primeira vez que ele me beijou na boca foi uma noite em seu Léon-Bollée. Ele tinha vindo buscar-me na saída da aula e me levava de volta a Sadec para o fim de semana. Era raríssimo eu me encontrar com ele nesse horário e sozinha, era talvez a primeira vez que isso acontecia. No meio do caminho, Léo me abraçou e senti desejo por ele. Acho que era desejo. Era uma paz que me contentava plenamente. Eu estava bem, ali, nos braços de Léo. Creio que se fosse outro, teria sido igual. Léo era qualquer um, qualquer um poderia ter os braços e a gentileza de Léo na escuridão do carro, na noite negra que foi a minha juventude. Quando seu rosto tocava o meu, era agradável. Eu não via as feições dele. … Eu não desejava Léo diretamente, desejava-o porque ele me desejava. Seu desejo fazia surgir o meu sem que ele tivesse a ver com isso. “Me dê os seus seios”, dizia Léo. Eu não queria dar os seios para ele tocar, achava que não valia a pena, não acrescentaria nada. O que eu queria era sentir o desejo dele, era tudo. … Foi nessa noite que Léo me beijou na boca. Fê-lo de surpresa. De repente, senti um contato úmido e fresco nos meus lábios. A repulsa que senti é propriamente indescritível. Empurrei o Léo, cuspi, queria saltar do carro. Léo não sabia mais o que fazer. No espaço de um segundo, senti-me tensa como um arco, perdida para sempre. Eu repetia: “Acabou, acabou”. Léo me dizia: “O que você está querendo dizer?” … Descrevo a coisa como se passou; eu era o próprio nojo. Mas quanto a explicar o que eu entendia por “acabou”, não posso fazê-lo, não sei mais. Acalmei-me, no entanto, e encolhi-me na outra extremidade do banco, tão longe de Léo quanto possível. E ali eu cuspi no lenço, cuspi sem parar, cuspi a noite toda e, no dia seguinte, quando pensava naquilo, cuspia mais. Léo parecia muito abatido, não tentava mais tocar em mim, via que eu cuspia, perguntava-me: “Eu te enojo?” Eu não podia responder. … Exatamente, sentia-me como depois de ser violada. Nada podia desfazer o fato de ele ter tocado minha boca com a sua boca que tinha tocado tantas outras, que só se abria para me dizer coisas desprezíveis ou ridículas, que me parecia degradada, vaidosa e estúpida, perdida como ele mesmo era perdido. (Duras, Cadernos de Guerra3 pag.75-78).

No mundo da ficção, a autora mostra o conflito familiar na sua melhor expressão, através do ódio manifestado pela sua mãe, vigiada de preto pelo irmão mais velho quando ambos descarregam nela suas inseguranças e fobias. Esta crítica literária – ensaio, mostra que, ao mesmo tempo, assim ela demonstra seu distanciamento:

Naquela época, de Cholen, da imagem, do amante, minha mãe tem um acesso de loucura. Não sabe nada do que aconteceu em Cholen. Mas vejo que me observa, desconfia de alguma coisa. Ela conhece a filha, essa menina, faz algum tempo que flutua em torno da menina um ar de estranheza, uma reserva, digamos recente, que chama a atenção, fala ainda mais devagar do que normalmente, e tão curiosa de tudo agora vive distraída, o olhar mudou, tornou-se espectadora da própria mãe, da infelicidade da mãe, como se assistisse à sua existência. O pavor súbito na vida de minha mãe. A filha corre o maior perigo, o de nunca se casar, nunca se estabelecer na sociedade, ficar desarmada diante dela, perdida, solitária. Nas crises, minha mãe se atira sobre mim, tranca-me no quarto, desfere-me socos, bofetadas, tira minha roupa, aproxima-se de mim, cheira meu corpo, minha roupa de baixo, diz que sente o cheiro do homem chinês, vai além, olha se há manchas suspeitas na roupa íntima e grita, a cidade toda pode ouvir, que a filha é uma prostituta, que vai pô-la para fora, que quer vê-la morrer e que ninguém mais vai querê-la, está desonrada, vale menos que uma cadela. E pergunta chorando o que pode fazer a não ser expulsá-la de casa para que não empesteie ainda mais o lugar. … Atrás das paredes do quarto fechado, meu irmão. … Meu irmão responde, diz que ela tem razão em bater na menina, sua voz é macia, íntima, amorosa, diz que é preciso saberem a verdade a qualquer preço, é preciso saberem para impedir que a menina se perca, para impedir que a mãe se desespere. A mãe bate com toda força. Meu irmão mais moço grita para a mãe parar. Ele vai para o jardim, se esconde, tem medo que me matem, tem medo, sempre o medo desse desconhecido, nosso irmão mais velho. O medo de meu irmão mais moço acalma minha mãe. Ela chora pelo desastre de sua vida, da filha desonrada. Choro junto com ela. Minto. Juro por minha vida que não aconteceu nada, nem sequer um beijo. Como você quer, digo eu, com um chinês, como você quer que eu faça alguma coisa com um chinês, tão feio, tão raquítico? Sei que meu irmão mais velho está colado à porta, ele escuta, sabe o que minha mãe está fazendo, sabe que a menina está nua, e espancada, ele gostaria que aquilo continuasse mais e mais e mais até o limite do perigo. Minha mãe ignora a intenção de meu irmão mais velho, obscura, aterrorizante. (Duras, O Amante1, pag.51-52)

E no mundo real, assim nomeado pela autora, o conflito familiar ressurge na sua melhor expressão, através do ódio manifestado pela sua mãe, complementada no lugar da mãe pelo irmão mais velho, com o consentimento dela quando ambos a punham a knock-out. Ao mesmo tempo assim ela demonstra primeiro seu distanciamento, depois sua própria falta de simpatia:

Mamãe me batia com frequência e, em geral, era quando os seus nervos a irritavam; ela não podia fazer de outro jeito. Como eu era a menor entre seus filhos e a mais flexível, era em mim que mamãe batia mais. Ela me fazia valsar com ligeireza e me dava pancadas com um porrete. A raiva fazia subir-lhe o sangue à cabeça e ela falava em morrer de congestão. Então o medo de perde-la sempre superava a minha revolta. Eu sempre concordava com os motivos que faziam com que mamãe me batesse, mas não com os meios. Eu achava radicalmente repugnante e antiestético o uso do porrete, e perigosas as pancadas na cabeça. Mas os socos que marcavam minhas bochechas faziam meu desespero – principalmente quando conheci Léo, a quem me era impossível confessar “o que acontecia em casa”. … Tenho que voltar às pancadas. Realmente recebi muitas. Quando fiz catorze anos, pouco antes de conhecer Léo, meu irmão mais velho, que estava estudando na França, voltou à Indochina. Em virtude de uma estranha emulação, ele também se habituou a me bater. Era ver quem me batia mais. Quando mamãe não me batia do modo como lhe convinha, ele dizia: “Espere”, e tomava o lugar dela. Mas ela logo se arrependia, porque a cada vez ela pensava que eu ficaria no chão. Ela soltava urros espantosos, mas meu irmão dificilmente parava. Um dia ele mudou de tática e me empurrou, rodando, contra o piano; minha têmpora bateu na quina do móvel e eu mal consegui me levantar. O medo de minha mãe foi tamanho que daí por diante ela viveu assombrada por essas batalhas. Em seus bons momentos, minha mãe me dizia: “Você é a minha pequena miséria.” …  A chegada de meu irmão à casa coincidiu com a das injúrias e da grosseria. … O meu irmão batia xingando. Suas injúrias habituais, além de “carango”, eram “espécie de estrume”, “você nem sequer é digna que se cuspa em cima”, “lixo” e “puta suja”, que também permaneceu um mistério para mim, mas que eu recebia, não sei por quê, em pleno coração. O xingo “podridão” tocava-me na consciência e me perturbava, principalmente quando conheci Léo, porque foi por ocasião das relações que tive com ele que meu irmão os dirigia a mim, assim como “cobra que esconde o jogo” e “veneno de cobra” que, embora mais intelectuais, pareciam mais pérfidos. “merdinha”, “bunda suja”, “xota suja”, ou “cadela” não implicavam o apoio de pancadas, tinham passado para a linguagem corrente. Pode-se perguntar por que meu irmão me tratava assim. Eu também me pergunto. As razões me fogem da cabeça assim que as entrevejo. Espancava-me porque não me suportava. Constato que no liceu eu tampouco tinha amigos, e que era antipática para as meninas de minha classe e até para a maioria dos rapazes. Eu nunca era amável com ninguém. A amabilidade, terra desconhecida. … Nunca me veio à mente sorrir. (Duras, Cadernos de Guerra3, pag.45-48).

Em seguida podemos ver um relato bem displicente, talvez irresponsável, professado pelo personagem que personifica o “irmão mais velho” da autora sobre a tragédia familiar, culminando na perda das terras inundáveis, para a própria administração francesa corrupta.

“É de rachar o bico a história de nossas barragens”, dizia o meu irmão mais velho. “Não conheço nada mais gozado. Tudo se colocou contra nós, até os caranguejos que nos comeram, só mesmo a mamãe é que tem ideias como essas. Naquelas noites creio que todos nós atingíamos o mais puro arrebatamento. Tinha-se perdido tudo, mas a gente se divertia formidavelmente (não existe outra palavra) por ter perdido tudo. (Duras, Cadernos de Guerra3, pag.49).

No entanto, por meio de estudos através da literatura comparada, e desta crítica literária – ensaio, podemos obter novas versões da narrativa, através do texto de ficção, ao lermos um relato professado pela personagem inominada de “O Amante”, que personifica a autora, sobre esta mesma tragédia familiar, da perda das terras inundáveis. Tudo em função da corrupta administração francesa, mas agravada pela própria teimosia da mãe.

Na garçonniére.

A noite chegou. O céu está cada vez mais azul, brilhante. A criança está longe do chinês, perto da fonte, deitada na água fresca da piscina. Está contando a história de sua vida. O chinês escuta de longe, distraído. Já está em outro lugar, penetrou na dor de amar aquela criança. Não sabe muito bem o que ela está contando. Ela está inteira na história que conta. Diz que conta frequentemente nessa história e que tanto faz se a escutam ou não. Diz: mesmo ele, se não escutar, não importa. … Não importa se não escutar. Pode até dormir. Contar essa história representa para mim, escrevê-la mais tarde. Não posso deixar de fazê-lo. Uma vez escreverei assim: a vida de minha mãe (a aposta foi cumprida: Uma barragem contra o Pacífico). Como ela foi assassinada. Como ela levou anos para acreditar que seria possível alguém roubar todas as economias de uma pessoa e depois nunca mais recebê-la, colocá-la porta afora , dizer que é louca, que não a conhece, rir dela, dar a entender que está perdida na indochina. E que as pessoas o acreditem e que por sua vez sintam vergonha em frequentá-la, eu também o diria. Nunca mais vimos brancos, durante anos. Os brancos tinham vergonha de nós. Minha mãe ficou apenas com uns poucos amigos. De uma só vez, foi o deserto. … Silêncio… O chinês: é isso que lhe dá vontade de escrever esse livro? – Não exatamente. Não é o fracasso da minha mãe. É a ideia de que essas pessoas do cadastro não devem estar todas mortas, que ainda haverá alguma delas que lerá este livro e morrerá ao lê-lo. Minha mãe dizia: “Posso ainda vê-los naquele dia, o primeiro dia, eu achava que era o dia mais bonito de minha vida. Trouxe todas as minhas economias numa bolsinha, lembro-me, e entreguei aos agentes do cadastro. E disse-lhes obrigada. Obrigada por terem me vendido aquele maravilhoso loteamento entre a montanha e o mar. Depois quando a água subiu pela primeira vez, eles disseram que nunca a tinham visto no cadastro de Kampot, nunca que ela nunca fizera um pedido de concessão, nunca. Chegando a esse ponto de sua história a mãe chorava e dizia saber que iria chorar até a morte e desculpava-se sempre por isso com os filhos mas era impotente contra os crápulas daquela laia de brancos na colônia. … Então, ao invés de morrer, depois, ela começou a confiar. Confiou durante três anos ainda. Isso nós, os seus filhos não podíamos entender. E chegamos mesmo a acreditar na loucura de nossa mãe, mas sem nunca dizer à ela. Recomeçou a comprar toras de madeira para consolidar as barragens. Pediu dinheiro emprestado. Comprou também pedras para consolidar os taludes ao longo das sementeiras. A esta altura da narrativa a criança sempre chorava. … Então o mar subiu. E então ela desistiu. Durou talvez quatro anos, já não se sabe muito bem. Até que aconteceu: acabou. Ela desistiu. Disse: acabou. Disse que desistia. E o fez. Partiu. Os arrozais foram invadidos pelas marés, as barragens foram arrastadas. O arrozal do alto ela deu para os empregados, com o bangalô e os móveis. (Duras, O Amante da China do Norte2, pag.69-70)

Antes do final, alguns esclarecimentos obtidos através do texto de não ficção, situam melhor o investimento empreendido pela mãe da Autora e o tamanho de suas perdas, inundadas, salgadas:

Minha mãe havia obtido do governador geral, por ser viúva de funcionário público e por ser funcionária (ela dava aulas desde 1903, na Indochina), uma concessão de arrozais situados no Alto Camboja. Essas concessões se pagavam então em anuidades mínimas e só se tornavam propriedade do beneficiário se, ao cabo de x anos, estivessem cultivadas. Minha mãe, depois de intermináveis providências, obteve uma imensa concessão de 850 hectares de terras e florestas num lugar perdido do Camboja entre a serra do Elefante e o mar. … Minha mãe contratou uns cinquenta empregados, que foi preciso transferir da Conchinchina e instalar numa “aldeia” que teve de construir inteiramente em pleno brejo, a dois quilômetros do mar. Essa época ficou marcada para todos nós por uma alegria intensa. Minha mãe tinha esperado a vida toda por aquele momento. Além da construção da aldeia construímos uma casa sobre pilotis à beira da estrada que ladeava nossa plantação. Essa casa custou-nos em 1925, cinco mil piastras, quantia grande para a época. A primeira colheita saldou-se por alguns sacos de arroz em casca. Os 850 hectares de terras concedidas pelo governo geral eram terras salgadas e inundadas pelo mar durante parte do ano. (Duras, Cadernos de Guerra3, pag.35-37)

Agora a mesma visão das perdas, sob o ponto de vista de quem já está se acostumando ao caos inevitável de uma experiência muito mal sucedida, sem possibilidades de indenização, experiência narrada pelo texto de ficção:

Uma vez ou outra, ainda percorremos o caminho, como antes à noite, ainda vamos os três, passamos ali alguns dias. Lá ficamos na varanda do bangalô, na frente da montanha do Sião. E depois voltamos. Ela não tem nada para fazer lá, mas vai mesmo assim. … Agora estamos crescidos, não tomamos mais banho no rio, não perseguimos mais a pantera negra nos pântanos das embocaduras, não vamos mais à floresta nem às aldeias dos pimentais. Tudo cresceu ao redor. … Também fomos atingidos pela estranheza, e a mesma lentidão que se apoderou de minha mãe também se apoderou de nós. Não adianta nada, olhamos a floresta, esperamos, choramos. As terras baixas estão definitivamente perdidas, os empregados cultivam os terrenos altos, ficam com o arroz em casca, continuam mesmo sem salário, aproveitam as boas palhoças que minha mãe mandou construir. O telhado apodrecido pelas chuvas continua a se desfazer. … A mãe não impedirá quando ela for atrás de dinheiro. A filha dirá: eu pedi a ele quinhentas piastras para o retorno à França. A mãe dirá que está bom, que é o necessário para se instalar em Paris, ela dirá: quinhentas piastras chegam. … Vejo que minha mãe é claramente louca. … Nunca tinha visto minha mãe como louca. Ela era. De nascença. No sangue. … À noite ela nos dá medo. Dormimos nós quatro numa mesma cama. … (Duras, O Amante1, pag.25-30).

Há muito pouca crítica literária – ensaio, sobre a obra de Marguerite Duras, que viveu no Vietnan (Indochina), o que é uma pena. Uma pena a falta dos estudos sobre a autora ou o que sucedeu à ela na sua história real no Vietnã? Procure responder.

Bibliografia comentada

1. Duras, Marguerite: L’Amant, Les Editions de Minuit, Paris, 1984 – O Amante, tradução de Denise Bottmann, Cosac Naif, São Paulo, 2007. Nesta obra em que a Autora visita fatos de sua adolescência na Indochina e que, portanto, apresenta traços de autoficção, apesar de que os personagens principais e familiares não sejam todos nomeados, há transfigurações da realidade dos fatos vividos que transcendem possibilidades para definições perfeitas entre criação e ficção, de modo que fica difícil sabermos em que medida a história toda é verdadeira. 

2. Duras, Marguerite: L’Amant de la Chine du Nord, Editions Gallimard, Paris, 1991 – O Amante da China do Norte, tradução de Denise Rangé Barreto, Editora Nova Fronteira, 2006, São Paulo. Esta obra reconta a narrativa anterior, “O Amante”, iniciada quando Duras fica sabendo da morte de Leo, seu amante da China do Norte (Vietnã), então colônia francesa. Ao mesmo tempo, reconsidera muitas cenas que poderiam servir de pontuação para um filme extraído do romance.

3. Duras, Marguerite: Cahiers de la Guerre e Autres Textes, P.O.L Editeur – Imec Editeur, 1995 – 2006 (Escritos na realidade entre 1943 e 1949) – Cadernos de Guerra e Outros Textos, tradução de Mário Laranjeira, Editora Estação Liberdade, São Paulo, 2009. Estes cadernos se apresentam de maneira a desvendar o entrelaçamento patente entre autobiografia e ficção, apreendendo o íntimo numa escrita de não ficção, fazendo-o sobretudo sob o prisma literário. Desta feita, a escritora nomeia as pessoas que espelham os personagens das narrativas e vivências anteriores, compondo afinal narrativas predominantemente autobiográficas, em edição organizada por Sophie Bogaert e Olivier Corpet.    

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